domingo, 20 de março de 2011

Empatia auditiva ou a importância de um diálogo sem dedos em riste

O valor de um diálogo depende, sobretudo, da multiplicidade de opiniões concorrentes. Se a Torre de Babel não tivesse existido, seria preciso inventá-la. Karl Popper. 





O conceito de diálogo relaciona-se sempre com o desejo de ser ouvido, mas também de falar seriamente, lealmente e francamente. Quais são as características de um diálogo? Quais os elementos fundamentais que o compõem? Além da propensão a ouvir, a capacidade de suspender por um momento nossas opiniões, e mais especificamente, nossas avaliações, são fundamentais. 


Em um diálogo procura-se explorar campos de reflexão familiares ou de forma não manipulada. A experiência dá a todos um sentido profundo, instintivo do que chamamos realidade, algo que a palavra alemã Einsicht (discernimento, compreensão) permitiria definir com mais precisão. Os diálogos são sempre uma tentativa de abordar de forma diferente, questões, situações e lugares comuns. A idéia é gerar novas situações, nas quais a interação é uma fonte de criatividade. Desta forma, a atitude de aprendizado é fundamental. Provavelmente, é nela que reside o segredo do diálogo bem-sucedido, que é sempre um caminho de aprendizado, mas também de reencontro e de esperança. 



É muito frequente que pesquisadores, professores e conselheiros se comportem como pessoas portadoras de um saber, porém incapazes de aprender com o interlocutor e, mais precisamente, de fazer com ele experiências conjuntas. É muito comum que não nos saibamos ouvir, que preguemos demais e nos questionemos muito pouco, que manipulemos supostas certezas como se fossem verdades. Em suma, é muito comum que representemos uma comunidade de ensino, mais do que de aprendizado. 


Como explicar que o diálogo é mais do que o intercâmbio daquilo sobre o que refletimos? Como as pessoas podem desenvolver por meio do diálogo sua humanidade comum? Como podemos desenvolver o espírito do diálogo? Como pensar e viver nele? 


Outras perguntas: A qualidade dá lugar à quantidade? Podemos extrair ensinamentos intelectuais das polaridades? Como coisas novas e férteis surgem entre os seres humanos? As polaridades podem subsistir no diálogo, podemos sequer mantê-las em equilíbrio para percebê-las de modo consciente, extraindo sempre lições de sua multiplicidade? 


Se você tem razão, pode se permitir manter a calma; se você tem a culpa, não pode permitir-se perdê-la. Mahatma Gandhi. 


Nos momentos em que o discurso dialógico existe, de extração autêntica, é preciso que o respeitemos, fazendo uso de uma franqueza total. Devemos modificar nosso estilo de reflexão monista, isolado, atomizado, para termos acesso a um pensamento baseado no diálogo. Isto diz respeito à política e à economia atuais, mas também à cultura, às artes, à religião e até nossa cidade, nosso bairro, nossa rua. Devemos levar em conta todos os elementos do diálogo: o respeito mútuo, a atenção, o sentimento de ser ouvido. 


Todo diálogo necessita abertura. É necessário um espaço aberto para que possa nascer, quando tudo dá certo, uma nova compreensão, uma nova proximidade. Entretanto, esta proximidade criativa somente é obtida quando as pessoas estão dispostas a desapegar-se de suas próprias convicções, a transmitir-se mutuamente suas figuras de pensamento, a fazê-lo sem reservas e com toda a disposição para deixar que o pensamento do outro influencie o seu. 


Enquanto eu ia embora eu dizia a mim mesmo: Sou mais sábio que esse homem. É possível que nenhum de nós saiba algo de belo e bom; mas ele acredita saber alguma coisa quando não sabe nada, enquanto que eu, como não sei nada, estou certo de não saber. Parece-me, pois, que sou um pouco mais sábio que ele pelo próprio fato de não pensar que sei aquilo que não sei. Platão. 


Trechos adaptados por Inácio Knapp do livro Diálogos com os grandes intelectuais do nosso tempo, de Constantin Von Barloewen.


Autor: Constantin Von Barloewen Enviado por: Paulo Henrique Silva


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