quarta-feira, 30 de março de 2011

Interdisciplinaridade ou Multidisciplinaridade

 As escolas possuem as disciplinas distribuídas em grades curriculares, cada qual com seu conhecimento específico. Uma realidade antiga que se explica pela compreensão de que os saberes constituem uma complexidade que não pode ser explicada de forma total e/ou inteira. Por isso esse tema (Interdisciplinaridade: disciplinas que se inter-relacionam na realidade e Multidisciplinaridade: disciplinas que se interconectam através das várias realidades) tem estado muito em discussão nos últimos anos. Entretanto, de forma vazia, pois na verdade muita gente não tem a menor ideia do seu sentido, mas as utilizam em suas falas.

     Este artigo pretende discutir qual é a melhor e mais forte estratégia interdisciplinar ou multidisciplinar para desenvolver o sentido da totalidade e/ou conhecimento pelo sistema escolar de ensino.

Especialização

     Atualmente as disciplinas se multiplicam rapidamente, se especializando e gerando novos campos de estudos. Mas, o conhecimento precisa ser entendido em seu conjunto. Ou seja, as matérias curriculares fazem parte de um todo. Quanto mais as disciplinas se especializarem, mais complicado fica perceber o currículo de forma completa. Consequentemente, quanto maior seu crescimento, extremamente complicado se torna notar a conexão existente entre as áreas e o completo acaba ficando isolado e dissociado. Tal fato leva o estudante a ter dificuldade de articular os saberes, pois aprendem de forma fragmentada (disciplinas).

     Por outro lado, quanto mais o conhecimento se acumula com o passar dos tempos, maior é a dificuldade das pessoas o dominarem em sua totalidade. Com o aumento acerca dos assuntos, maiores as necessidades da particularização para o domínio de certos aspectos. Todavia, de forma única e isolada não consegue se explicar, perdendo o seu sentido. Essa diferenciação através do processo da divisão trouxe muitos ganhos. Contudo, é necessário que se compreenda a especialização num todo que se relaciona, para não corrermos o risco de distorcermos o próprio conhecimento.

Burocracia

     As matérias (disciplinas) escolares com seus saberes são tratadas como se fossem únicas (gavetas) e sem nenhuma relação entre si, causando no aluno a dificuldade de observar que os conhecimentos de cada professor são aspectos diversos de uma só realidade, que deve ser concebido como parte de um grande conglomerado. Todas essas divisões compartimentadas são mantidas por uma série de burocracias do sistema escolar e é necessário quebrar essa tradição que aliena.

     Todos nós fomos formados na perspectiva de compartimento e aliado a isso ainda tem o fato de toda uma complicação do sistema dificultar o caminho para uma mudança. Entretanto, a realidade cotidiana do aluno é a do todo indissociável e uma educação que pudesse associar traria muito maior produção, uma vez que a própria realidade em que o aluno vive seria levada em conta. Assim, a reflexão deste tema se torna importantíssimo.

Estratégias possíveis para mudanças

     Se cada professor pudesse em suas aulas expor que os conhecimentos estão ligados entre si nas mesmas realidades, já seria um ótimo começo. Tal fato minimizaria a aparência da separação e do compartimento entre os vários saberes. Outras estratégias mais fortes seria a construção coletiva de projetos em torno de um único tema, no qual os professores expõem seus próprios conteúdos, de acordo com a sua disciplina de trabalho, ou também como nos temas transversais. Ou seja, se escolhe alguns temas que atravessarão cada uma das matérias ensinadas na escola. Nesse caso o tema passa a ser o eixo curricular.

Transdisciplinaridade

     A ciência e a educação tentam recuperar a totalidade, a completude e neste caso a transdisciplinaridade parece ser a melhor e a mais forte saída para mudar os limites entre as matérias escolares, uma vez que representa o nosso real cenário sociocultural. Nesse sentido, a interdisciplinaridade parece ser insuficiente. Ou seja, as realidades na verdade são múltiplas (multidisciplinar), se conectando entre si e é preciso dialogar nessas desigualdades, sem diminuir os desiguais ao todo. Assim, ao mesmo tempo em que o conhecimento precisa da especialização, posteriormente precisará da visão do conjunto.

     O respeito às diferenças, num emaranhado de grande diversidade de tudo o que existe entre os diferentes saberes. Uma combinação livre e variada. Deste modo, não uma matéria, mas sim um conjunto de matérias, não um caminho, mas inumeráveis caminhos, como um rizoma (multidisciplinaridade) e não como uma árvore (interdisciplinaridade).

Conclusões

     Tornaram-se importante a discussão destes assuntos para que as disciplinas escolares vivenciem o conhecimento como parte de um conjunto. Pois quanto mais o tempo tem passado mais complicado tem ficado notar a conexão que existe entre as diversas áreas dos saberes. Ao mesmo tempo, há uma necessidade da especialização, devido ao acúmulo cada vez maior dos conhecimentos. Entretanto é imprescindível compreender especialização no todo, de forma relacionada (conhecimento) e tentar vencer a tradição alienante das disciplinas tratarem seus saberes como se fossem únicas e sem relação uma com a outra quando na verdade são aspectos diferentes das mesmas realidades.

     Quanto às estratégias para efetuar mudanças reais na prática das escolas, a ideia dos temas transversais (transdisciplinaridade), onde os temas passam a ser o eixo e não a própria disciplina, parece ser a mais viável e condizente com a realidade social e cultural a qual fazemos parte e vivemos. Ou seja, um formato verdadeiramente multidisciplinar


Dailton Sidnei Pichinin,mestrando em Ciências del Movimiento Humano
pela Universidad Autônoma de Asunción (PY).


http://www.pucrs.br/mj/artigo-interdisciplinaridade-ou-multidisciplinaridade.php

Um comentário:

  1. Olá!
    Publicada a "Pedagogia do esporte coletivo".
    Publicação 2014 (já disponível)!
    Estejam convidados a conhecer!
    Disponível no site:
    http://dailtonspichinin.loja2.com.br/
    Abraços!

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